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Este espaço surgiu da minha admiração pelo trabalho e reconhecimento dos transformistas que deram inicio a arte da transformação no Ceará, as precursoras. Devemos a elas nossas inspirações e nosso espaço adquirido hoje na sociedade.
Este mês tenho o prazer de apresentar as irmãs mais tradicionais do Mundo Gay no Ceará, uma dobradinha que deu certo. Duas transformistas tradicionalíssimas nos palcos, nos bailes de carnavais e grandes eventos de Glamour, estou falando das maravilhosas e únicas: Samantha Girard e Pautita Rans.
Scarllet - Como surgiram Samantha Girart e Pautita Rans?
Samantha - Havia um grupo chamado Metamorfose no início da década de 80, que deu início a arte do transformismo, composto por doze pessoas, entre elas: Diane Prince, Luciano Costa, Rebeca, Yolanda, eu e outras mais. Quando eu entrei no grupo fui batizada, pelo diretor do Grupo, Ricardo Dione, como Samantha, nome esse que foi inspirado do seriado americano: “A feiticeira”, sucesso na época. Estávamos montando o espetáculo francês: “O cassino das bonecas virgens”, daí veio o sobrenome Girart, e foi assim que surgiu: Samantha Girart.
Pautita - Sempre gostei muito de shows, palcos... e sempre vinham muitas amigas de Samantha ensaiar aqui em casa, e elas viam meio jeito e já diziam: “Renatinha, essa ai vai ser a sua sucessora”. Acha aquilo tudo muito bonito e acompanhava elas mesmo sendo menor de idade, me escondi muito da polícia (risos), por ser menor de idade. E uma amiga de Samantha, Meire Blue foi quem me ajudou a me transformar pela primeira vez e quem me batizou escondido de todo mundo, nem mesmo Samantha sabia. Ao completar meus 18 anos, Meire Blue, que era apresentadora da Boate Casa Branca, me convidou para fazer um show, foi quando subi aos palcos pela primeira vez.
Scarllet – Quais os momentos mais marcantes em sua carreira?
Samantha - Um dos momentos mais marcantes em minha carreira foi quando fui Rainha do Carnaval em 1986, título que batalhava já há três anos. Outro momento importante foi quando minha irmã foi Miss Mundo em 1992, além da felicidade de ela ter ganhado o título, fui eu quem a produziu e ela levou todos os prêmios da noite: Melhor Traje Típico, Melhor Vestido de Noite e o título principal de Miss Mundo. Em 1995 fui ao Rio de Janeiro pela primeira vez para desfilar na Marquês de Sapucaí, na Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio, esse foi também um dos grandes momentos em minha carreira, pois desfilei com a minha fantasia.
Pautita - Meus momentos mais marcantes foram quando eu fui Miss Mundo, como Samantha mesmo mencionou, pois já vinha concorrendo há três anos, e foi uma grande conquista. Outro momento foi um show que fiz ao lado de minha irmã no Othon Palace Hotel, pois fomos escolhidas entre tantos transformistas maravilhosos para realizar esse show. Sem falar em todos os meus shows que são sempre muito marcantes pra mim. Quero ressaltar a força e o incentivo, sempre presente durante toda a minha vida, de minha amiga Andreza Pantoche. Começamos juntas e permanecemos juntas até hoje.
Scarllet – Como foram as aceitações da sua família com relação as suas personagens e também as suas orientações sexuais?
Samantha - Essa história é muito engraçada! Meu pai me viu em pleno carnaval montada no baile municipal que acontecia no Ginásio Paulo Sarasate. Quando estava subindo uma escada eu dei de cara com ele. Eu fiquei morta de vergonha, jamais ia imaginar que iria encontrar meu pai lá. Corri pra casa pra me desmontar e quando ele chegou veio falar comigo e disse: “Você estava tão bonita, porque veio embora?”. (Risos). Dalí em diante ele me aceitou e começou a me ajudar até a fazer minhas produções e fantasias. Meu pai sempre foi maravilhoso, era como um amigo. Na verdade tanto meu pai quanto minha mãe sempre foram nossos amigos, e nunca descriminaram a gente. Depois minha mãe passou a fazer até as minhas roupas de mulher.
Pautita - Já eu tinha muito medo de contar pra eles, pois eles já tinham a Samantha como um filho gay dentro de casa, e outro, na minha cabeça, ia ser mais difícil para eles aceitarem. Sempre ia me montar escondida, fora de casa, nas boates. Até que ganhei o concurso Miss Mundo e ai ficou impossível esconder deles, pois naquela época quando se ganhava um concurso de beleza a impressa ia até a casa da vencedora para entrevistá-la. No dia seguinte eu esperei meu pai sair para o trabalho, ai, na mesa tomando o café com minha mãe, olhei pra ela nos olhos e disse que havia me vestido de mulher para participar de um concurso e tinha ganhado. Ela olhou pra mim e perguntou: “Como você se sentiu, é isso mesmo que quer?”. Então eu falei, que tinha gostado sim e que era isso mesmo que eu queria. Ela me perguntou se eu sabia que ia ser uma batalha muito grande contra o preconceito. E eu disse que sim, que sabia. (Emocionado). Então ela falou que se era isso mesmo que eu queria, ela iria ficar do meu lado. Era tudo que eu queria, já tinha o apoio da minha irmã e agora com o da minha mãe estava tudo resolvido.
Scarllet - Quem está por traz da Samantha e da Pautita? Fale-nos sobre o artista por traz das personagens.
Samantha – Por traz da Samantha tem a Renata, porque o Renato só existiu de verdade até meus 18 anos, pois tinha que cumprir com as obrigações de alistamento juntos ao Exército. “Antes eu tivesse ido de vestido, pois não passei nem da porta.” (Risos). Então após obrigação cumprida a Renata tomou o lugar do Renato. Pois a partir dalí decidi virar travesti começando a me hormonizar, hoje me sinto uma mulher, pois penso e ajo como uma, sou uma senhora de respeito (Risos), foi ai que surgiu a profissional Renata Alves, cabeleireira e estilista. Pois é assim que assino minhas criações. E a Samantha depende da Renata, porque é a Renata que tem as idéias, que cria e que produz a Samantha.
Pautita – Eu sempre fui assim desse jeito, estudei e quando terminei os estudos, resolvi seguir os passos da minha irmã, pois sempre tivemos salão em casa, e ao lado dela me tornei o profissional que sou hoje, o cabeleireiro Robson. Meu hobby é subir nos palcos como Pautita e fazer meus shows.
Scarllet – Deixe aqui seus agradecimentos:
Samantha: Agradeço em primeiro lugar a Deus; ao meu pai que sempre foi meu amigo, me deu amor e carinho sempre; a minha irmã que mora comigo e sempre está do meu lado; as minhas duas irmãs; as minhas amigas da época: Dione, Félix, Erivalda (Nathalia Kisky); e ao Wellington.
Pautita – Agradeço a minha amiga Andreza Pantoche, que é minha amiga de infância e sempre esteve do meu lado em todos os momentos da minha vida; ao Cleber Weyne; Ana Weyne; meu sobrinho Wesley que me ajuda muito nessa parte virtual (Risos); minhas irmãs Débora e Dayse; a Tablata Fiterman, Linda Carter, Júnior Forte, Mônica Lepynsk e a maravilhosa Meire Blue, que foi quem me ajudou na primeira montagem.
Agora nós vamos encerrar nossa entrevista com um bate-bola com as duas irmãs:
Samantha
Deus: Ser superior.
Família: Porto seguro.
Felicidade: Amanhecer.
Tristeza: A perda de Nathalia Kinsky.
Conquista: Respeito.
Amizade: Minha irmã (Pautita).
Uma mensagem: Que as pessoas se amem mais.
Pautita por Samantha:Ídolo.
Pautita Deus: Magnitude. Família: Meu alicerce. Felicidade: Saúde.
Tristeza: Perda da minha mãe.
Conquista: Minhas realizações.
Amizade: Lealdade.
Uma mensagem: Nós somos alunos e professores uns dos outros.
Samantha por Pautita: Minha vida.
Agradeço ao carinho e atenção com que minha equipe foi recebida em vossa casa. Nosso fim de tarde foi maravilhoso e perdemos até a noção do tempo. Foi um prazer enorme poder conhecer mais de perto duas estrelas tão encantadoras, com suas simplicidades e carismas. Continuem assim e sucesso sempre! Tenho certeza que ficará na minha memória para sempre e todo o nosso público vai amar. Obrigada meninas.
Beijos, Scarllet O’Hara.
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